domingo, 23 de fevereiro de 2014

A maioria dos alfabetos são filhos do fenício



Da direita para a esquerda, você está vendo aqui o alfabeto aramaico. Esta versão do alfabeto está fresquinha e tem pouca quilometragem percorrida desde o "fenício" - o alfabeto original criado na terra que os gregos chamaram de "Fenícia" e que hoje é - ou melhor, que sempre foi o Líbano.
Minha tese, e uma que não faço muita questão de brigar para defender, é que as 22 letrinhas acima são a base da maioria dos alfabetos que hoje utilizamos na Terra com a exceção do Chinês (Ideográfico e pictográfico) e por consequência do Japonês (misto ideográfico, pictográfico, silábico) e Coreano entre os alfabetos modernos a partir do Aramaico - quer dizer destaco o papel do aramaico como divulgador, meio de divulgação da invenção fenícia. O Link acima vai fundo na questão acrescentando aí o ugarítico.
Estão fora do alcance desta minha afirmação os hiéroglifos egípcios e as escritas cuneiforme mesopotâmicas, discutidas no link acima,bem como o maia etc.

Excetuando os que não são, o que resta dos sistemas de escrita da humanidade, são parentes. Entre os parentes estão o alfabeto grego, o latino, o hebraico, o arábico (digo arábico e não árabe por que o alfabeto arábico é utilizado pelo Árabe mas também pela família túrquica: tadjique, uzbesco (hoje escrito em cirílico), cazaco (já foi escrito com os alfabetos arábico, latino e agora é grafado em cirílico) , Uigur ou ainda o Persa ou Farsi do Irã ou o Dari e o Pushto ou Pashto do Afeganistão).

Visualizo um contrabando muito interessante que ocorreu do Oriente Médio (prá gente) na direção do Extremo Oriente (também para nós). São derivados do Aramaico o alfabetoBrahmi que deu origem a todos os alfabetos da Índia tanto nos escritos "devanagari" como nas formas adpatadas ao Tâmil,Malaiala e outras linguas do Sul da India. Através do Brahmi vieram a existir o tailandês, birmanês e outros. 

Antes de tudo é bom dizer que na casa dos alfabetos, moram alfabetos, silabários e abujads. Alfabetos são aqueles como o que usamos no português - um latino adaptado, com as letras individuais que formam silabas, juntando vogais e consoantes. Todo esse processo que a gente aprendeu na escola. Os silabários são letras individuais que tem o som de consoante e uma vogal juntos. Exemplo o japonês: ka, ki, ku, ke, ko, ma, mi, mu, me, mo e assim vai, totalizando menos de 51 letras. Todos os alfabetos indianos, e os outros que se espalharam até o Sudeste Asiático são silábicos. Já os abujads ou abjads são os alfabetos dominados pelas consoantes como o árabe e o hebraico que não possuem vogais. As palavras são escritas formadas a partir de raízes consonantais e cujos sons vocálicos ou são representados por sinais diacríticos - quer dizer acentos ou, na sua falta, pela cultura e preparo do leitor. KTB após receber os sinais diacríticos seria lido como Ktab que significa livro. 

Na Rota da Seda, um antigo caminho que possibilitou os contatos entre Leste e Oeste, Ásia e Europa e que Marco Polo percorreu, se encontram inúmeros museos, monumentos, templos que provam este grande movimento humano causado pelo alfabeto ou seja, pelas pessoas envolvidas na tarefa de adaptar e criar alfabetos. 

Na postagem anterior, mostrei o alfabeto mongol que foi adaptado do antigo alfabeto Uigur (que hoje usa o alfabeto arábico) por monges tibetanos que por sua vez liam o Tibetano adaptado do Sânscrito, que foi adaptado do Brahmi, que fora inspirado no Aramaico que veio do alfabeto fenício via proto-hebraico.

Alfabetos não são coisas naturais. São culturais. São uma tecnologia que deve ser aprendida. Estão ligados à estrutura do poder quer religioso ou governamental. Alguns casos são ilustrativos. O alfabeto arábico foi adotado por línguas de países de religião majoritária islâmica. O latino por cristãos. O alfabeto usado para escrever o russo, foi criado por dois monges um deles conhecido hoje como São Cirilo. É o alfabeto ligado à Igreja Católica Ortodoxa Russa. Mas durante a Ditadura do Proletariado Comunista, o alfabeto cirílico passou a ser o alfabeto da religião do proletariado soviético e todas as línguas da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) deveriam ser escritas com o alfabeto majoritário. Por isso o Uigur já foi escrito com alfabeto latino, cirílico e arábico.  É algo semelhante aconteceu o mongol.

A situação não está resolvida. A Turquia que é muçulmana adota o alfabeto latino. Por isso, especulo, os inventores do Brahmi não ficaram fiéis à receita fenícia do alfabeto vocálico-consonantal mas preferiu o silabário. É uma coisa fantástica.

Texto publicado em 2006 no Blog de Babel, meu primeiro blog sobre línguas

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